Série África

14 obras inspiradas nos BIG FIVE e na fauna e flora africanas!


A série ÁFRICA é a melhor forma de materializar e traduzir o sentimento de estar na África, tendo observado e sentido todas as formas, cores e texturas da flora e fauna, em toda a sua diversidade e autonomia. Criação e dimensão livres para a superfície imagética que não tem a verossimilhança como objetivo de representação. Uma série que mescla técnicas, habilidades, e materiais distintos, com uma identificação contemplativa da natureza africana.

 


 

Texto Crítico: O céu que nos protege

É muito difícil sair de uma incursão à África sem transformações. Mesmo que a viagem seja acompanhada de cuidados, numa África do Sul habituada a turistas e também algo alterada no pós-Copa do Mundo, o território em questão instiga, promove metamorfoses. A arte, em várias linguagens, já atestou tal importância, seja na cinematografia do amor ao exótico de Uma Aventura na África (1951), de John Huston, e Entre Dois Amores (1985), de Sydney Pollack, por exemplo, e nas letras de viagem de Paul Theroux em O Grande Bazar Ferroviário (1975) e O Safári da Estrela Negra (2002). É um continente de obras fortes, assinadas por artistas que lá nasceram, como provam as fotografias de David Goldblatt, Pieter Hugo e Moshekwa Langa, todos nascidos na África do Sul.

Ao mesmo tempo, a desigualdade e a miséria continuam atrozes, os conflitos étnicos perduram e as catástrofes naturais ainda se mantêm _ o que dizer do derretimento das neves do Kilimanjaro, tão simbólicas? E, para a obra visual de Patricia Lopes, a ida a tal lugar certamente corrompeu certezas e contaminou, com uma crise positiva, sua produção.

África, sua nova série já exibida na Londrina onde vive, desdobra antigos fios já desenvolvidos anteriormente e finca novas questões, ainda a esperar resultados e definições mais sedimentados. No conjunto de obras, que mixa os suportes da pintura, do desenho, da fotografia, da assemblage e do tridimensional, a temática africana tem um dado da atração do selvagem, do indomado, do bruto, mas continua no trabalho de ateliê já mediado por ferramentas atuais. Ou seja, a vivência do estranho (mesmo que sob proteção) passa a provocar novos sentidos a partir de um trabalho posterior, com elementos mais conhecidos.

É marcante perceber que a obra que dá título à série é justamente aquela em que Lopes parece atingir com mais eficácia sua estratégia plástico-conceitual. O vermelho em pequenas porções esféricas se imiscui ao fundo celeste e branco, tal qual uma patologia a alterar o que antes parecia viver na normalidade. O acrílico que salta levemente à esquerda da tela também ajuda a testar a estabilidade precária do conjunto. Zebrada também guarda esse tom ruidoso, com as listras que evocariam a marca do animal citado a rasgar visualmente a planaridade da superfície, porém, ao se chegar perto do chassi, observar que uma miríade de letras-signos é que constituem tais ranhuras em preto. E aí reside um passo interessante na produção de África: quando a artista prescinde dessa sua anterior marca gráfica ou a utiliza de maneira a retirar seu significado inicial (o serial-visual é mais importante que o dado da comunicação e do ‘entender’) parece gerar peças mais desenvolvidas, maduras.

É importante relatar um pouco do processo de elaboração dos trabalhos. Com os muitos registros fotográficos diversos feitos na viagem, Lopes os recolhe e os coloca, tanto imagens de paisagens, retratos e detalhes menos chamativos, sobre a mesa do ateliê. Após uma seleção mais ou menos intuitiva, tais imagens servirão de base para serem retrabalhadas em programas de pós-produção, a ressaltar texturas, sobreposições, efeitos visuais variados. Após esse mosaico de cores e padrões perder quase tudo de sua referência inicial, aí começa o labor pictórico. Por meio da acrílica, a artista cria camadas e camadas do ‘assunto pictórico’. E, por fim, Lopes acresce, quando acha necessário, algum dado mais objetual.

A poética de Patricia Lopes, assim, é passível de transmutações a partir de experiências cotidianas e também menos ordinárias. Vai ser relevante assistir a como o gráfico e o tridimensional irão reagir a novos experimentos _ ou se perdurarão. E o pictórico continuará a ser predominante? Ou a produção se estenderá a novos vetores, como a obra sonora (um aplicativo desenvolvido por ela durante a exposição no PR indica algo nesse sentido) e o livro de artista? As respostas irão chegar aos poucos e espera-se que elas sejam mais inquietantes que tranquilizadoras.

Mario Gioia, junho de 2014

Graduado pela ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo), coordena pelo quarto ano o projeto Zip’Up, na Zipper Galeria, destinado à exibição de novos artistas e projetos inéditos de curadoria. Em 2013, assinou por tal projeto as curadorias das individuais de Ivan Grilo, Layla Motta, Vítor Mizael, Myriam Zini e Camila Soato. No mesmo ano, fez as curadorias da coletiva Ao Sul, Paisagens (Bolsa de Arte de Porto Alegre) e das intervenções/ocupações de Rodolpho Parigi e Vanderlei Lopes na praça Victor Civita/Museu da Sustentabilidade, em SP. Foi repórter e redator de artes e arquitetura no caderno Ilustrada, no jornal Folha de S.Paulo, de 2005 a 2009, e atualmente colabora para diversos veículos, como a revista Select. É coautor de Roberto Mícoli (Bei Editora), Memória Virtual – Geraldo Marcolini (Editora Apicuri) e Bettina Vaz Guimarães (Dardo Editorial, ESP). Faz parte do grupo de críticos do Paço das Artes, instituição na qual fez o acompanhamento crítico de Black Market (2012), de Paulo Almeida, e A Riscar (2011), de Daniela Seixas. É crítico convidado do Programa de Fotografia 2012/2013 e do Programa de Exposições 2014 do CCSP (Centro Cultural São Paulo).

 

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